Meu ex foi abusivo? Respondemos as perguntas mais comuns sobre o tema
"Fuçava o meu celular". "Não deixava que eu tivesse amigos". "Me isolei de minha família". No fim de julho, relatos como estes invadiram as redes sociais quando a hashtag #MeuExAbusivo entrou para o ranking de assuntos mais comentados do Twitter. Nas semanas seguintes, o Google percebeu um aumento de 118% no interesse pelo termo.
A plataforma divulgou, com exclusividade para Universa, quais são as perguntas mais buscadas sobre o assunto. Especialistas consultados ajudam a responder as dúvidas em relação aos primeiros sinais de que um relacionamento está se tornando abusivo, como lidar com o parceiro e quais são as marcas emocionais deixadas por esse tipo de relação.
"O que é abuso emocional e o que é abuso psicológico?"
"É tudo aquilo que de alguma forma te tortura mentalmente, seja no âmbito do pensamento ou no âmbito da emoção", fala a psicóloga cognitiva Luciane Gonzalez. "Quando uma pessoa faz com que você se sinta um lixo com atitudes, é abuso emocional. Agora, você pode não se sentir um lixo, porém, seu par pode falar tantas vezes que você é um lixo que você começa a acreditar: isso é um abuso psicológico. Ele influencia a mulher a achar que tem determinada característica. São formas de entendimento co-construídas. São coisas diferentes, mas costumam aparecer juntas", ela fala sobre essa diferença sutil.
"O que é violência emocional e psicológica?"
A lei Maria da Penha, de número 11.340, de 7 de agosto de 2006, considera violência psicológica "qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição de autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, violação de sua intimidade, ridicularização, exploração e limitação de direito de ir e vir". O texto, no entanto, não tem qualquer referência à violência emocional. "Salvo quando essa emoção atenua a prática de um crime", fala a promotora do MP-SP (Ministério Público de São Paulo), Valéria Scarance, autora do "Guia do Namoro Legal", em que ajuda adolescentes a entenderem como é um relacionamento abusivo.
"Como fica uma mulher que passa muito tempo com uma pessoa abusiva?"
Luciane Gonzalez diz que os prejuízos emocionais deixados por um relacionamento abusivo são inúmeros, mas o mais comum é a culpa. "Esse abuso tem uma estratégica psicológica que faz com que a vítima acredite que foi ela quem causou o que passou. Ela tem dificuldade de entender que existe um ciclo de violência, que intercala períodos de lua de mel e de violência, que a prende nessa relação".
"Como não cair nas coisas que o ex fala?"
As chances de se tornar vítima de um relacionamento abusivo diminuem caso a pessoa esteja psicologicamente fortalecida e não deixe que sua vida rode em torno do parceiro. "Se você cai no que ele fala, é porque ele foi colocado no lugar de protagonista de sua vida. Não que uma pessoa segura não possa estar em uma relação abusiva, mas com certeza alguém com menos autoestima está mais propenso", afirma Luciane. "Isso porque o abuso é maquiado, não é explícito. O abusador vai colocando a outra pessoa em um jogo onde, com o tempo, você começa a se ver como causador de tudo aquilo. Se a pessoa está psicologicamente fortalecida, consegue perceber rapidamente os sinais."
"Estou ou não numa relação abusiva?"
Esteja atento aos sinais de que um relacionamento possa estar se tornando abusivo. "Essa relação te causa medo? Você pensa muito em como você tem que agir para ponderar como vai ser a resposta do outro", fala a psicóloga Luciane Gonzalez. Porém, é comum que a vítima saiba que está em um relacionamento pouco saudável. "A pessoa não tem dúvida, mas acha que pode contornar, mudar o que causa isso no outro. Porque a relação não é abusiva o tempo todo. O abusador costuma seduzir com o lado bom, fofo, e enlouquecer com a face mais sádica."
"O que fazer quando se é vítima de violência emocional?"
"O primeiro passo é reconhecer que tipo de violência você está sofrendo, porque não há apenas um tipo", diz a promotora Valeria Scarance. "Identifique atos que possam desencadear uma situação de controle, isolamento ou ciúmes excessivos. Imponha limites nesses comportamentos para que não se instale uma relação abusiva." A jurista pontua que este pode ser o começo de um relacionamento agressivo. "A violência dentro de um namoro ou casamento não começa pela física". Caso você tenha sido vítima de uma agressão, procure ajuda e orientação de pessoas em quem você confie. "Nem sempre esse processo de libertação da violência começa em uma delegacia de polícia, por isso é importante que essa pessoa procure uma rede de acolhimento, tenha alguém de confiança." Depois de restabelecer sua autonomia e bases de segurança, a vítima pode se sentir mais fortalecida para fazer um boletim de ocorrência.
"A pessoa que causa abuso psicológico sabe o que faz?"
"Ela sabe. A violência é um padrão aprendido. Muitas vezes as pessoas repetem padrões que foram incorporados ao longo de sua vida. Grande parte dos abusadores vivenciou a violência em sua infância, na sua adolescência, e adota o modelo em relações com seus parceiros. Esses agressores não t´me, em regra, uma doença ou distúrbio mental. Eles sabem que cometam atos de violências, pedem desculpas, mas optam em repetir esse padrão", fala Valeria Scarance.
"Por que o homem sempre joga o passado na cara da mulher?"
Esta seria, de acordo com a promotora de MP-SP uma das marcas da relação violenta. "É a inversão da culpa. Ele procura nas pequenas falhas da mulher para obter controle, poder, submissão". Frases como "Tenho ciúmes porque antes de namorarmos você ficava com todo mundo" podem fazer parte de um procedimento comum nessas relações. "Os abusadores apontam qualquer falha para justificar atos de dominação", complementa Valeria.
"Como lidar com manipuladores?"
"Fique atento para perceber os sinais de manipulação", diz a promotora. "Controle da pessoa, afastamento dos amigos ou ciúme excessivo que causa constrangimento são situações que merecem alerta porque podem elencar em uma relação abusiva." Por isso, Valeria aconselha a cortar o "mal pela raiz". "Imponha limites, estabeleça uma base segura, tente manter sua personalidade íntegra". A psicóloga Luciane Gonzalez, por sua vez, é categórica: "Fique longe deles. Não existe como 'mudar' uma pessoa manipuladora. Não tem relação mais importante do que consigo mesma, então por que vai se dilacerar para estar com outra pessoa?."
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